GUIA DE LEITURA

Se você me perguntasse quais textos ler, eu diria para CLICAR AQUI e achar uns 20 e poucos que eu classifiquei como os melhores. Mas vão alguns de que eu particularmente gosto (e que fizeram algum sucesso):

Caritas et scientia
(as saudades da minha escola)
A-Ventura de Novembro
(o retrato de um coração partido)
Vigília
(os sonhos nos enganam...)
Sairei para a boate e encontrarei o amor da minha vida
(ou "elucubrações esperançosas")
(a afeição por desconhecidos)
A tentação de Mãe Valéria
(trago a pessoa amada em três dias)
A nostalgia do que não tive
(a nostalgia do que não tive)

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

OPERADORA DE CELULAR

(ou ensaio sobre 'turns on')

Certa vez, ouvi de uma amiga que não nos apaixonamos por pessoas, mas por traços em pessoas. Não sei se de todo concordo ou discordo, essa é uma boa indagação. Sei que faz algum sentido: sempre há aquele detalhe que nos chama a atenção e nos ressalta um diferencial na pessoa, às vezes uma besteira qualquer, a selar o suposto premente êxito daquela combinação existencial chamada casal. Um diferencial que revela alguma afinidade, como se na vida nosso fardo (ou benção) fosse encontrar um semelhante em meio a tanta gente diferente, isto é, fazer da semelhança o diferencial entre um e os tantos outros diferentes, por mais que assemelhados entre si na estranheza (indiferença?) que causam aos nossos códigos e corações.

Apaixonamentos são também das mais curiosas emoções. Por vezes revelam fetiches da alma, especificidades sentimentais, fantasias do coração, não necessariamente carregadas de lascívia, pelo menos não naquele momento, nem por aquela razão. Bem, (ainda) há quem se derreta em amores por uma posição moral específica que o outro possua, por um sonho de vida partilhado, por um passado sofrido semelhante, por todo um caldo de referências em comum. Religiões, filosofias, tradições culturais, a pertença a certo povo. Tudo isso nos identifica e nos aproxima. E com razão.

Em algumas vezes, a coisa é mais física e sensorial. Um jeito específico de olhar, de dançar, uma certa forma de dizer "oi", um toque provocativo, sardas, covinhas, cabelos de cor assim, olhos de cor assada, uma pele macia... Por vezes, o magnetismo é inconsciente. Dele só nos damos conta quando a falta nos bate à porta, inexorável. Como drogados, sentimos verdadeira crise de abstinência, como quando andamos na rua e uma brisa incauta nos carregas para dentro do nariz o perfume da pessoa, como um combustível de alta octanagem a fazer florescer de modo incendiário as piores e melhores memórias a ela associadas.

Noutras vezes, a paixão se sugestiona por besteiras culturais quaisquer. Desculpe-me por subestimá-las de plano. Sabe aquela pessoa que gosta dos mesmos filmes, dos mesmos livros, das mesmas músicas, dos mesmos jogos e tem um certo estilinho? Aquela menina que gosta daquela banda que ninguém conhece. Ou aquela menina que - what the hell!? - também joga aquele RPG online. Não importa quem ela seja, vai parecer uma enviada do destino. Alguém mais do que especial. Também pode ser só uma poser inteligente que arrumou um nicho onde se sabe mais valorizada. Não tem jeito: a adolescência envolve cair nesse engodo. Eu mesmo já achei que óculos de armação grossa fossem indício de todo um conjunto de características positivas. Hoje fico desconfiado de ser uma qualquer querendo pagar de inteligentinha/estudiosa ou uma hipster blasé que vá se incomodar com minha breguice genuína ocasional.

Contudo, as afinidades mais estranhas, nem por isso menos relevantes, são as operacionais, logísticas, utilitárias, práticas. Elas estão longe de serem necessárias, muito menos suficientes, para fazer brotar qualquer sentimento de proximidade romântica. Mas uma vez acontecendo o pontapé inicial romântico, elas prestam um papel importante em alimentar a coisa. E, por vezes, servem como critério eliminatório. Podem parecer frívolas, materialistas, coisa de gente vazia, a antítese do amor genuíno e desinteressado, o que até tem seu fundo de verdade. Mas não podem por isso ser ignoradas: entendê-las não implicará perdoá-las. Não necessariamente.

Afinal, como conta pontos positivos a seu favor alguém que more perto! Alguém que tenha um carro e saiba dirigir para viajar aos fins de semana sem grandes perrengues de rodoviárias. Alguém que não seja chata para comer, no sentido (você pensou em outra coisa!) que possa acompanhá-lo em qualquer restaurante. Alguém que tenha horários noturnos e não vá morrer de sono no seu auge metabólico. Alguém sem muitos amigos, para não ter muito com quem dividir horários. Ou alguém com muitos amigos, para quem sabe se fazerem novos amigos. Alguém que entenda de algum assunto técnico o suficiente para quebrar um galho cotidiano. Alguém com uma família legal para se aturar (quem sabe amar) nos eventos dominicais. Alguém que não tenha tatuagens ou piercings indiscretos para a vovó não ficar constrangida. Enfim, alguém que permita um relacionamento sem grandes esforços, sem grandes sacrifícios: os pequenos são bem-vindos como uma sacudida à sempre iminente monotonia.

E - por que não? - alguém que tenha a mesma operadora de celular. Ajuda muito. Com os planos ilimitados em voga entre usuários da mesma companhia, nada mais oportuno do que poder ligar e mandar mensagem sem se preocupar com a conta ao final do mês. Cuidado para não virar um telechiclete.  Fato é que uma maior viabilidade financeira do relacionamento não deixa de ser uma afinidade. Uma vez correspondida, é mais uma razão para correr para o abraço.

Contudo, se a operadora for diferente e a pessoa ainda assim valer a pena, também não tem problema: já inventaram a portabilidade. Você pode correr imediatamente à loja da operadora para se perfilar ainda mais ao ser amado. Afinal, nem só de telepatia vive o amor. Um telefonema de vez em quando ainda é bem-vindo. Se for de graça, então...

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