GUIA DE LEITURA

Se você me perguntasse quais textos ler, eu diria para CLICAR AQUI e achar uns 20 e poucos que eu classifiquei como os melhores. Mas vão alguns de que eu particularmente gosto (e que fizeram algum sucesso):

Caritas et scientia
(as saudades da minha escola)
A-Ventura de Novembro
(o retrato de um coração partido)
Vigília
(os sonhos nos enganam...)
Sairei para a boate e encontrarei o amor da minha vida
(ou "elucubrações esperançosas")
(a afeição por desconhecidos)
A tentação de Mãe Valéria
(trago a pessoa amada em três dias)
A nostalgia do que não tive
(a nostalgia do que não tive)

quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

a moda engajada do próximo reveillon (2ª tiragem)


republicando,  no momento adequado (o texto é de 22 de fevereiro do ano que hoje termina)

lançarei moda:
ano que vem, passem o ano novo de laranja.
façam uma homenagem a quem desfaz o que fazem no ano novo.
façam uma homenagem a quem cata as garrafas caídas e as garrafas arremessadas.
façam uma homenagem a quem limpa os caroços das uvas e os bagaços de um ano velho.
façam uma homenagem a quem recolhe todos os cigarros e as cervejas da ebriedade alheia.
façam uma homenagem a quem não estoura o champanha, mas cata a rolha.

ano que vem, passem o ano novo de laranja.
pode não ser a cor da paz, mas é a cor da limpeza, mais do que o branco.
e sem superstições.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

eu, a chave, a velhinha, o medo e, quase, a generosidade.

Aconteceu há mais de seis meses, mas só hoje resolvi contar.

Estava caminhando na capital francesa como aqueles turistas que não querem nada. O dia estava um pouco nublado e eu já estava voltando para o hotel depois de bater pernas por muitas horas.

Entrei numa transversal de uma importante avenida e rumava em direção a uma das estações de metrô. Várias pessoas passeavam também, inclusive um casal de turistas brasileiros que não sei lá como me reconheceu enquanto conterrâneo e pediu em português para eu bater uma foto deles diante de uma casa que nada tinha de demais. Bati a foto e segui.

Dei alguns passos a frente e uma velhinha me abordou. Uma velhinha lá nos seus 70 anos, que falava um francês meio estranho, muito apressado, atropelando palavra. Parecia não ser francesa. Não estava muito bem vestida, tinha alguns dentes pretos, o nariz estranho, o cabelo mal-cuidado, algumas rugas e trajava um vestido preto nada elegante. Muitas rugas e a expressão desesperada. E por mais assustadora, até repugnante, que possa parecer essa velhinha, ainda era uma velhinha daquelas que inspira uma atenção especial. Não sei direito porque, mas tenho uma adoração especial por pessoas idosas, sendo os seres com os quais eu mais me sensibilizo.

Fato é que a velhinha estava com umas chaves na mão e em seu linguajar meio ininteligível, ou no mal-entendimento de meu parco francês, me disse que a chave ou a fechadura estava com problemas e me pediu ajuda para abrir a porta de onde morava. Não compreendi exatamente do que se tratava. Concordei com a cabeça e fui seguindo a mulher.

Entramos no quarteirão, pois seu prédio era daqueles cuja portaria não fica na rua, mas no interior do quarteirão, como alguns prédios do centro do Rio. O lugar estava vazio e não falamos nada até chegarmos ao portão principal. Já fui meio receoso sobre o que se seguiria, mas não quis pensar muito.

Chegando ao portão, pedi a chave para tentar abri-lo. Ela olhou educadamente e disse que a fechadura da portaria estava abrindo, mas que era para eu subir e tentar abrir a do apartamento dela. Pegou a chave e abriu o portão da portaria, dando um passo a frente e sinalizou para que eu também entrasse.

Não entrei. Travei no capacho e fiquei olhando para a cara dela, sem saber o que falar. Não iria subir aquele prédio vazio, num lugar em que eu não conhecia, com uma senhora que não havia me passado a melhor das impressões e estando eu sozinho na cidade . Fiquei com medo de que tudo aquilo fosse um golpe e ali minha viagem fosse para o beleléu. Imagina...

Falei a ela que não poderia subir, mas não quis explicar. Ela ficou desolada e perguntou o porquê de minha recusa, esboçando uma cara ainda mais desesperada. Comecei a suar frio tamanho era o conflito na minha cabeça: e se eu estivesse tratando como suspeita ou farsária uma velhinha necessitada e tão motivadora de compaixão? Ia deixá-la ali na rua implorando pela ajuda alheia para que ela conseguisse entrar em casa?

Ela me sensibilizou, mas meu lado racional e cunamãocional falaram mais alto. A história da chave não era lá muito plausível e o pedido de ajuda logo a mim, que não tenho cara nem know-how de chaveiro, não era muito razoável. E ainda lembrei de minha mãe, na minha distante infância, dizendo para eu não dar papo a estranhos. Por fim, preferi achar que era tudo um golpe e que o risco não compensaria a generosidade. 

Reiterei meu não e virei as costas dizendo a frase mais mãos-vazias da língua dos biquinhos e mil acentos: "desolé". Andei de volta para a rua. A velhinha ficou implorando para eu voltar, pedindo ajuda. Eu relutava em não olhar para trás, pois sabia que sua carinha enternecedora poderia me fazer voltar atrás na decisão de ignorar. Ela continuou a falar e eu seguia com o passo, embargado, tanto quanto sua voz, que ia sumindo como se ela tivesse resignado e fosse sentar e chorar.

Se sua voz sumiu em meus ouvidos, ainda continuou por um tempo a ecoar em minha cabeça. Até hoje, não sei direito se acertei ou errei em minha precaução ou em meu preconceito. Não quis pagar para ver, mas também esqueci que a dúvida impõe um preço um tanto salgado, parcelável em tantas vezes quanto for lembrada história. Compartilho a fatura.

domingo, 21 de dezembro de 2008

VOLTEI.

Há quase dois meses não publico, à exceção de uma passagem justificando a ausência de um mês, que melhor e de forma mais bela se explica pela seguinte passagem, do texto que me consumiu as últimas duas semanas e que definitivamente não se encaixa no propósito desse blog (ou pelo menos se insere no que eu não quero para o blog) e portanto não será publicado (publicado em agosto de 2010):
"... tudo indicava o caminho de uma crescente entorpecedora, capaz de distrair, capaz de, por conta da dedicação exclusiva, fulminar o olhar atento de quem cria, como se a função poética tivesse sido emprestada a mais nobre serventia e em seu lugar entrasse, como mero tapa-buraco, a infrutífera e egoísta função metalinguística."
Entenda o tudo como o que hoje é nada.
Mas não importa: estou de volta.